terça-feira, 23 de março de 2010

Percepção do mundo

Andar de bicicleta é uma coisa mágica.

Cada vez que decido sair de casa utilizando minha magrela como meio de transporte sempre volto com histórias, sensações e amigos novos. Isso é genial, me traz pra vida novamente e ainda contribuo com minha saúde, com o desentupimento das ruas e libero um espaço a mais em onibus/metrô.

Esse final de semana fui, mais uma vez, dar uma volta na Ciclovia da Marginal Pinheiros. Logo de cara, descendo as escadas que dão acesso, me deparo com um grupo de senhores distintos - acompanhados de suas bicicletas de 4 mil reais - conversando sobre a experiência de pedalar naquela ciclovia.

"Que nojo, nunca mais volto aqui"
"É .... o rio está fedido demais, insuportável pedalar sentindo esse cheiro"

Escutei aquilo engolindo à seco e segurando a lingua pra não soltar um "então contribua com o meio ambiente parando de cagar". Mas fui embora chateada com aqueles comentários.

O rio estava realmente péssimo, fedendo mais que os outros dias. Mas esse é um dos tipos de percepção que só a bicicleta consegueria trazer pra a gente. Olhando em volta observo centenas de carros cruzando a marginal e nenhuma alma viva dali olhava pro rio ou compartilhava com o mau cheiro.

Eis uma das coisas muito boas que essa ciclovia proporciona: mostrou pra classe mé(r)dia - principalmente - que ainda existe um rio ali, pedindo socorro, suplicando por ajuda. E agora? De quem é esse problemão?

Aos mais conformados só resta voltar pras suas SUV´s, fechar os vidros, ligar o ar condicionado e so olhar pra placa do carro na frente. Aceitar que esgostos a céu aberto existem e isso é perfeitamente normal. OK!

Tenho raiva das pessoas que sequer refletem sobre seu mundo, nao questionam as coisas, nao resolvem problemas coletivos. Tenho raiva de gente egoísta. Tenho raiva de gente hipócrita, de pseudo-ambientalistas, dos passivos-chatos!

Eu continuarei indo lá, levando mais pessoas e estimulando a prática, na esperança que a aproximação com esse lado podre de SP sensibilize e dê força pra mudarmos alguma coisa.

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4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Oi Aline, eu aqui do outro lado do mundo aplaudindo de pe esse post.
    Essa e a mesma sensacao que tenho pedalando nas bandas de ca. A cidade onde moramos e pequena e relativamente 'limpa'. Porem, rodeada de SUV's e V8's, cheia de pessoas que vivem me dizendo, "Nossa, nao sei como voce consegue pedalar nessa cidade. E tao perigoso nas rotatorias!". Eu tambem engulo uns sapos com as pernas bem abertas, querendo mandar na letra - 'Perigoso mesmo, a cidade cheia de pessoas como voce!'
    Estamos ai, lutando para uma vida melhor (para nos e para os outros)
    :)

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  3. Oi Aline! Que bom ler histórias assim. Há algum tempo sigo seu blog e twitter para encontrar apoio ao pedal urbano.

    Pra pedalar na cidade não precisa ser ativista, mas todo ciclista se torna um pouco assim porque a maioria imensa das pessoas pensam de forma mesquinha ou acomodada. É como um colega que, quando soube da minha dificuldade do pedal na rua, apenas me disse: "vá pedalar no parque, rua não é lugar de bike". E pensei, uai, então quem fez da rua lugar exclusivo de carro, em primeiro lugar?

    Moro em Brasília e aqui muitas das rotas ainda são (um pouco) mais rápidas de carro, mas quero mudar a rotina de me estressar no trânsito e pagar muito caro pela gasolina do DF. BSB está mudando muito rápido, é um inferno para estacionar e o trânsito, ainda que flua, pode parar por qualquer acidentezinho, inundação, ou porque mais gente resolveu sair de carro aquele dia.

    Hoje tomei mais um passo para fazer meu caminho até o trabalho pedalando. Brasília tem muito espaço aberto bom para bike, mas também tem avenidas intransponíveis e espações abandonados, exigindo criatividade pra bolar uma rota eficiente sem pôr a vida em risco. Fiz cerca de 3/4 do caminho de bike e voltei, e não gastei mais que 40 minutos. E pedalar traz mesmo um contato diferente com que nos cerca. Teve o camarada pedalando que cruzou meu caminho algumas vezes, mesmo tomando rotas diferentes. Também teve o mal-educado que jogou o carro em cima de mim para tomar espaço numa faixa bem larga (deve ser raridade em Sampa, mas é comum aqui) e conseguir ultrapassar todo mundo pela direita. Teve o ciclista que fez uma paradinha sob a árvore para papear no celular, e a outra que pedalava a toda velocidade pela via expressa da cidade (quando eu já estava no carro, vindo trabalhar) e chegou na Esplanada antes de mim...

    Agora só falta comprar o farol dianteiro pra voltar do trabalho à noite =)

    Um abraço e bom pedal

    @pedrogmenezes

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  4. como é bom ler essas coisas..... me deu uma injeção de ânimo! a vezes penso que falo pra ninguem ou falo só pra mim, mas receber esse tipo de feedback me fez derramar lagrimas!
    tenho feito o que posso por um mundo melhor, se nao conseguir espero ter feito as pessoas ao meu redor um pouco melhores...
    e receber noticias de tão longe me fez ter certeza que to no caminho certo!
    brigada meninos!

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